quinta-feira, 4 de outubro de 2012

inocencialgia.


Vendo algumas das fotos antigas do Educandário Sol Nascente, colégio na qual estudei 8 anos, fiz amizades que atravessaram as fronteiras do ensino médio e do quase completo ensino superior.

Sinto saudades de caminhar sozinho as 06:00a.m todos os dias, vendo quase que o sol nascer, olhando pros dois lados antes de atravessar aquela avenida que quase me matou pelo menos umas 38 vezes ano. De andar, pisar longe das rachaduras, contar os passos do colégio-casa-casa-colégio, de parar na distribuidora de bebidas pra comprar o meu caçulinha pokemon, de parar na padaria pra comprar um real de chiclete e depois ter que distribuir pra metade da sala, quase que rotineiro esses 8 anos, a mesma coisa.

Lembro tambem de como fazia frio pela manhã, ir de blusa de frio, na época era só uma, do animaniacs, azul bebe, uma cor um tanto gay, mas era a minha mãe quem comprava as minhas roupas, então... rsrs.
De chegar cedinho, bater uma bolinha na quadra e ja começar a estudar suado, preguento e melecado, exibindo magreza e despreocupação. Lembro da  garota mais bonita da sala, que só eu achava, todos me zoavam "tem tanta menina bonita e voce acha justo essa?'' haha.. hoje ela é mãe, tem um filhinho e de fato, não é bonita. Mas quando a gente é criança, se tem cada paranóia... uma vez, num churrasco a tarde pra definirmos a formatura da quarta série, num sábado (meu primeiro churrasco ou reuniãozinha com os amigos fora de casa - mas no colégio sob o comando dos professores haha) começamos a conversar (mentira - entrei de ganso no papo das meninas descoladas a qual ela era associada rs) e elas me perguntaram: "Felipe Machado, você sabe que filme legal tá passando no cinema?" E eu, com a minha cara de que só assistia pokemon e cavaleiros do zodíaco e filmes de animação da pixar no cinema com a minha MÃE, respondi: "Olha, não sei mas deve ta passando algum legal" e elas olharam uma para a outra e sorriram, não sei se aquilo foi um teste pra ver o quanto eu era pirralho ou se era um convite disfarçado, nunca saberei, mas me senti um ''fraldento'' perto das meninas da minha sala. Enfim, depois, fomos embora do churrasco eu e uns 3 amigos, nunca esqueço aquele dia que ficou marcado, porque depois escrevi uma espécie de carta pra eu mesmo, falando sobre tudo, no fim da noite.

Sinto falta, de chegar no colégio, perto da portaria e de longe ver os aprendizes de porteiro, aquelas crianças que ficavam na portaria pra dar bom dia pra TODO mundo que passava, era legal dar bom dia pra elas, acho que aprendi a sorrir no bom dia graças a elas e ao porteiro, super descontraído. Saudades de entrar por aquele portão, era como se eu estivesse entrando em um outro mundo, no mundo dos pokemons, da escola travestida de sanatório para crianças estranhas (como eu era) e com gostos estranhos, não sei se porque me identificava muito com meus amigos, hoje, vejo que meus amigos antigos com os gostos antigos, são os mesmos amigos, com gostos atuais, mas com vestígios antigos de parecer atuais, é estranho e confuso, mas pra mim, faz um sentido danado. Eles gostam das mesmas bandas de rock que eu, até do estilo indie, rs.. é engraçado ver que tudo mudou, mas nada mudou.

Tive, como qualquer outro garoto, um romance, que durou muito tempo até. Tive, tambem, jogos e campeonatos de futebol. Como era bom, quando o professor André Luis Castro (hoje atual arbitro aspirante ao quadro da FIFA) nos comunicava que teriamos campeonato na ASEG ou jogo contra o Colégio que ele dava aula e que esqueci o nome agora hahaha.

Era bom saber que Goiânia era só aquele pedaço, que minha vida toda em 8 anos se resumiu em 1km andando e 1km voltando, todos os dias do ano, exceto nas férias, claro.

Bom tambem, não saber de nada relacionado a sacanagens, ter nojo de garotas, ter nojo de beijo na boca, vergonha de abraço, vergonha de pedir até pra dançar com a garota nas festinhas.

Como era bom, sentar numa roda de pokemaniacos, discutir sobre futebol, JOGAR futebol... como era bom rir das garotas e das tosquices que elas faziam, rir dos meus amigos que ficavam mostrando os pelos pubianos na nossa frente só pra zoar, porque não tinhamos NADA de pelo em lugar nenhum kkkkk.. como era bom saber que a inocencia existia, sem saber que era inocente... na verdade, nunca nos achamos inocentes no tempo presente, mas no futuro percebemos que fomos ou até ainda somos de fato, inocentes...

Saudades das festas juninas, das feiras culturais, da feirinha das frutas.. nunca me esqueço que a primeira vez que minha mae deixou eu ir na casa de algum amiguinho brincar a tarde toda, foi na quarta série, fui pra casa do Victor Costa, mas isso já é história pra outro post.. rs..

Sinto saudades do sentimento de ser criança, da alegria de coisas tão pequenas, tempo em que o dinheiro eram os R$2,50 do lanche... e os R$10,00 a primeira vez que fui ao shopping, tempo esse, que passou.. como o sol que nascia ao caminhar pro colégio e se punha, com o fim da tarde... como o dia nasce e se vai hoje, de maneira mais sutil, mais inocente... realmente, eram um por-do-sol inocente...


Nostalgia, as vezes é bom.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Millor humanizando..

Poesia Matemática
Millôr Fernandes

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Texto extraído do livro "
Tempo e Contratempo",

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ventiladores e fantasmas.



Boa noite,




E quando chega o fim da grande jornada épica do relacionamento a dois? Acaba mesmo? Continuam amigos?

Alguém que dormiu junto, comeu no mesmo prato, compartilhou (trocou) no beijo aquela bala de menta pelo menos 14 vezes enquanto rolava o filme no cinema, babou no mesmo copo/canudo de coca, dividiu metade da caixinha de nerds em um só beijo, sentiu do gosto do fluor de sábado a noite ao bafinho matinal de domingo.

Além do trivial, compartilhou ideais, alguns sonhos, outros vontades, muitos até realizaram várias das vontades/sonhos do lado dessas mesmas pessoas. Hoje, desconhecidas por algum tempo (in)determinado, simplesmente por não babar naquele copo especifico, por ele ter preferido comprar iogurte com tampa de rosca, não usar mais o fluor no sábado, e, sim no domingo.


Ventilador ARNO tipico de casa de vó
As rotinas mudam, os costumes talvez, mesmo que a palavra ''costume'' seja corriqueira, o costume neste caso, significa "O QUE FAZÍAMOS JUNTOS" e não o que era rotineiro, porque o que é rotineiro passa despercebido por nós, mas não o que se fazia junto da pessoa, principalmente na fase ''fall in love'' em que tudo tem de ser romantico ou agradar, ganhar um sorriso ou um elogio da moça ou do moço significa um daqueles ventiladores arno antigos, com potencia 5 (na escala de 1 a 5) soprando dentro do seu estomago e isso marca.



 Os sintomas aparecem, e cada vez que um desses sintomas surge, algo fica marcado na memória, mesmo que seja o programa mais simples, na rua do seu trabalho ou no lugar mais frequentado pela sua família ouvindo a frase mais clichê, quando se está com alguem e você está NAQUELA fase, você esquece.
 É como se dessem um reebot na sua memória e tudo naquele lugar que você costumava ir (sim, com seus pais) não fosse nada familiar ou aquele detalhe que você NUNCA iria perceber, você percebe porque tá bobão.


fantasminha camarada.
Então é isso que faz com que o: ''o que fazíamos juntos'' dos costumes, fique marcado em nossa mente, algo quase fantasmagórico, mesmo, como se naquela esquina, ainda estivesse aquela pessoa, com aquela saia rodada com estampa florida de '' grãos de cafézinhos'' e com aquele sorriso. Credo.


 Sofrem com os fantasmas, por ainda desejá-los por perto, outros, porém, desejam que fiquem apenas como fantasmas, propriamente distantes e abstratos.












Por hora, desejo que os fantasmas descansem e tentem encontrar em outros momentos, esquinas mais cheias, lugares escondidos e frases menos clichês... sempre com o ventilador soprando baixo,quase no off (numa escala de 1 a 5) que é pra deixar o estomago respirar, sozinho.