quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Millor humanizando..

Poesia Matemática
Millôr Fernandes

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Texto extraído do livro "
Tempo e Contratempo",

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ventiladores e fantasmas.



Boa noite,




E quando chega o fim da grande jornada épica do relacionamento a dois? Acaba mesmo? Continuam amigos?

Alguém que dormiu junto, comeu no mesmo prato, compartilhou (trocou) no beijo aquela bala de menta pelo menos 14 vezes enquanto rolava o filme no cinema, babou no mesmo copo/canudo de coca, dividiu metade da caixinha de nerds em um só beijo, sentiu do gosto do fluor de sábado a noite ao bafinho matinal de domingo.

Além do trivial, compartilhou ideais, alguns sonhos, outros vontades, muitos até realizaram várias das vontades/sonhos do lado dessas mesmas pessoas. Hoje, desconhecidas por algum tempo (in)determinado, simplesmente por não babar naquele copo especifico, por ele ter preferido comprar iogurte com tampa de rosca, não usar mais o fluor no sábado, e, sim no domingo.


Ventilador ARNO tipico de casa de vó
As rotinas mudam, os costumes talvez, mesmo que a palavra ''costume'' seja corriqueira, o costume neste caso, significa "O QUE FAZÍAMOS JUNTOS" e não o que era rotineiro, porque o que é rotineiro passa despercebido por nós, mas não o que se fazia junto da pessoa, principalmente na fase ''fall in love'' em que tudo tem de ser romantico ou agradar, ganhar um sorriso ou um elogio da moça ou do moço significa um daqueles ventiladores arno antigos, com potencia 5 (na escala de 1 a 5) soprando dentro do seu estomago e isso marca.



 Os sintomas aparecem, e cada vez que um desses sintomas surge, algo fica marcado na memória, mesmo que seja o programa mais simples, na rua do seu trabalho ou no lugar mais frequentado pela sua família ouvindo a frase mais clichê, quando se está com alguem e você está NAQUELA fase, você esquece.
 É como se dessem um reebot na sua memória e tudo naquele lugar que você costumava ir (sim, com seus pais) não fosse nada familiar ou aquele detalhe que você NUNCA iria perceber, você percebe porque tá bobão.


fantasminha camarada.
Então é isso que faz com que o: ''o que fazíamos juntos'' dos costumes, fique marcado em nossa mente, algo quase fantasmagórico, mesmo, como se naquela esquina, ainda estivesse aquela pessoa, com aquela saia rodada com estampa florida de '' grãos de cafézinhos'' e com aquele sorriso. Credo.


 Sofrem com os fantasmas, por ainda desejá-los por perto, outros, porém, desejam que fiquem apenas como fantasmas, propriamente distantes e abstratos.












Por hora, desejo que os fantasmas descansem e tentem encontrar em outros momentos, esquinas mais cheias, lugares escondidos e frases menos clichês... sempre com o ventilador soprando baixo,quase no off (numa escala de 1 a 5) que é pra deixar o estomago respirar, sozinho.